Quanto a mim, quando fui levado para o campo de concentração em Auschwitz, um manuscrito meu, pronto para publicação, foi confiscado. Não há dúvida de que o meu profundo desejo de reescrevê-lo me ajudou a sobreviver os rigores dos campos de concentração em que estive. Assim, por exemplo, quando fui atacado pela febre do tifo, rabisquei muitos apontamentos em pedacinhos de papel para depois conseguir reescrever o manuscrito, caso vivesse até o dia da libertação. Tenho certeza de que essa reconstrução de meu manuscrito perdido, levada a cabo na penumbra dos barracões de um campo de concentração na Baviera, ajudou-me a superar o perigo de um colapso cardiovascular.
Pode-se ver, assim, que a saúde mental está baseada num certo grau de tensão, tensão entre aquilo que já se alcançou e aquilo que ainda se deveria alcançar, ou o hiato entre o que se é e o que se deveria vir a ser. Essa tensão é inerente ao ser humano e, por isso, indispensável ao bem-estar mental. Não deveríamos, então, hesitar em desafiar a pessoa com um sentido em potencial a ser por ela realizado. Somente assim despertaremos do estado latente a sua vontade de sentido. Considero perigosa a errônea noção de higiene mental que pressupõe que a pessoa necessita em primeiro lugar de equilíbrio, ou, como se diz na biologia, de "homeostase", ou seja, de um estado livre de tensão. O que o ser humano realmente precisa não é um estado livre de tensões, mas antes a busca e a luta por um objetivo que valha a pena, uma tarefa escolhida livremente. O que ele necessita não é a descarga de tensão a qualquer custo, mas antes o desafio de um sentido em potencial à espera do seu cumprimento. O ser humano precisa não de homeostase, mas daquilo que chamo de "noodinâmica", isto é, da dinâmica existencial num campo polarizado de tensão, onde um pólo está representado pelo sentido a ser realizado e o outro pólo, pela pessoa aque deverá realizá-lo. E ninguém pense que isto é válido somente para situações normais; isto vale ainda mais para indivíduos neuróticos. Quando os arquitectos querem reforçar uma arcada que ameaça desabar, eles aumentam a carga por ela sustentada, pois com isso os componentes são ligados mais firmemente. Da mesma forma, quando os terapeutas desejam incrementar a saúde mental dos seus pacientes, não deveriam ter receios de criar uma sadia quantidade de tensão através da reorientação para o sentido da vida".
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